A origem do álbum

“A escrita é uma das mais importantes aprendizagens que realizamos na escolarização e formação ao longo da vida. Dentro do estabelecimento prisional do Linhó, muitos dos jovens privados de liberdade têm por hábito exercitar a prática da escrita através do seu interesse por géneros musicais urbanos, como o RAP.”

Filipe Gameiro das Neves
co-autor do projeto De Dentro Para Fora

Na escola do EP Linhó,

o interesse pela escrita musicada sempre foi incentivado pelo professor e músico Filipe Gameiro das Neves. Após ter reparado que havia este interesse comum entre muitos dos jovens-adultos que frequentavam a escola, criou um momento semanal onde começou a trazer alguns instrumentais livres de direitos de autor para servirem de base rítmica para a poesia.

As sessões de escrita e improviso começaram a ficar ainda mais interessantes quando o projeto Corpo em Cadeia - na pessoa de Catarina Câmara da companhia Olga Roriz - cedeu uma das suas colunas da marca JBL. Esta foi a génese do projeto De Dentro Para Fora, que nesta fase inicial ainda se intitulava JBL (Jovens Beats do Linhó).

No dia 3 de Março de 2020,

ocorreu uma conferência que marcou a trajetória deste projeto: “Crioulos: passado, presente e futuro”. Dino d’Santiago (músico), Ana Raquel Matias (socióloga) e Josefa Cardoso (professora) foram os palestrantes convidados neste evento organizado pelo professor Filipe dentro do EP Linhó. Depois da conferência, Dino ofereceu o instrumental de uma das suas músicas - “Brava” - para incentivar a prática da escrita na escola do estabelecimento. O desafio que deixou foi o de os formandos escreverem o seu RAP crioulo por cima de batidas de base cabo-verdiana, neste caso um "batuku".

Infelizmente,

devido à pandemia da COVID-19, o contato com o exterior deixou de ser possível e os professores não puderam mais levar convidados para colaborar com a escola. No entanto, ao manterem a prática semanal da escrita musicada durante este período, professor e alunos possibilitaram a criação de novas músicas. Dino disponibilizou-se mais uma vez, oferecendo quatro instrumentais, produzidos por Berlok - DJ e produtor musical.

Cresceu a sensação de se estar a trabalhar num projeto de originais, tanto a nível das letras, como dos instrumentais. Faltava apenas uma peça para que um álbum pudesse florescer: o estúdio Johnson Semedo.