Fotografia: Anderson Santana

A nossa visão

“Do que precisas? Foi a pergunta que fiz a cada vez que estive com os jovens privados de liberdade do Estabelecimento Prisional do Linhó, enquanto trabalhávamos no projeto De Dentro Para Fora.

Quando conheci as suas histórias pessoais, percebi que poderia ser eu a estar ali - à distância de uma decisão - em função do meio onde cresci. No Bairro dos Pescadores, em Quarteira. Talvez o meu destino tenha sido outro porque os meus pais educaram-me com medo de Deus e do Inferno, o que me fez escolher o lado da lei.

Ao longo de dois anos com estes artistas no Linhó, senti-me perto de Deus como nunca antes. O pouco tempo que dispunham para estarem connosco - três horas por semana - aproveitavam de forma intensa e os seus olhos brilhavam, mesmo que na noite anterior tivessem pensado que não valeria a pena continuar a viver.

São artistas que verdadeiramente me inspiram. A sua esperança ensina-me a ser mais grato. Fazem-me responsável pela minha vida. Lembram-me de que sou livre, que tenho tudo e que faço tão pouco. Fazem muito mais por mim do que eu por eles. Eles serão ouvidos para além dos altos muros que hoje encarceram os seus corpos. As suas vozes, amplificadas, serão honradas e cada um deles sentirá que valeu a pena confiar no seu talento natural e inato.

Somos todos - eu e eles - artistas.

As nossas trajetórias, com diferentes matizes, provam a importância da Arte na oferta de um lugar social a jovens vítimas da desigualdade ou, como caminho para a reinserção social em um mundo nem sempre justo, mas onde cada um de nós merece uma segunda oportunidade.



Dino d’Santiago
Co-autor do projeto De Dentro Para Fora